E da espera, do costume nasce a lentidão das horas e o tempo
juntos é obrigação. Sempre chega a hora e para alguém, liberdade deixa de ser
objeto de vontade e decai lentamente, revirando com dedos longos as correntes
de lembranças deformadas pelo tempo. Decantado o encanto, liberdade se dobra em
decorrência simples e fática do descuido, da tempestade velada pela indiferença
educada. Liberdade indesejada, passa rascante íris a dentro degradando em cacos
tão transparentes quanto afiados a lembrança que ora foi sólida. Os olhos verdes
dele não verteriam lágrima, não verteriam sangue, não verteriam olhar de
desagrado ou desacato: e a dança do fim se retraça sob os balcões enfeitados do
teatro. Passos lentos e longos, os olhares medrosos por se cruzarem no desatino
das aleatoriedades do acaso. Aquele que esteve preso se liberta por pura
necessidade, sem vontade, sem ranger de dentes. Exilado, se sente só,
acostumado às ataduras quentes sobre os ferimentos muito novos e vermelhos
causados pelo calor da presença. E trata as queimaduras como se fossem pequenas
medalhas revestindo o peito nu que antes se cobria de lembrança. E o
pragmatismo das palavras bem escolhidas se mostra mais covardia que praticidade
e deixa entrever o sangue que ainda corre. Vermelho, denso, tão divino quanto
qualquer ser humano pode ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário