sexta-feira, 11 de maio de 2012

Da Liberdade Forçada.


E da espera, do costume nasce a lentidão das horas e o tempo juntos é obrigação. Sempre chega a hora e para alguém, liberdade deixa de ser objeto de vontade e decai lentamente, revirando com dedos longos as correntes de lembranças deformadas pelo tempo. Decantado o encanto, liberdade se dobra em decorrência simples e fática do descuido, da tempestade velada pela indiferença educada. Liberdade indesejada, passa rascante íris a dentro degradando em cacos tão transparentes quanto afiados a lembrança que ora foi sólida. Os olhos verdes dele não verteriam lágrima, não verteriam sangue, não verteriam olhar de desagrado ou desacato: e a dança do fim se retraça sob os balcões enfeitados do teatro. Passos lentos e longos, os olhares medrosos por se cruzarem no desatino das aleatoriedades do acaso. Aquele que esteve preso se liberta por pura necessidade, sem vontade, sem ranger de dentes. Exilado, se sente só, acostumado às ataduras quentes sobre os ferimentos muito novos e vermelhos causados pelo calor da presença. E trata as queimaduras como se fossem pequenas medalhas revestindo o peito nu que antes se cobria de lembrança. E o pragmatismo das palavras bem escolhidas se mostra mais covardia que praticidade e deixa entrever o sangue que ainda corre. Vermelho, denso, tão divino quanto qualquer ser humano pode ser.

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