terça-feira, 5 de abril de 2011

Entretanto.

Saudade. Eu detesto, odeio com cada fibra do meu corpo, porque mais que o ritmo do meu coração ela é constante em meu caminho. Nada pode me matar mais dolorosamente e mais lentamente que a saudade, do toque, da voz, do sorriso, do perfume ou do jeito de olhar. Entretanto eu regozijo a saudade, pois ela prova, a mim que me acho tão frio às vezes, que de fato algo me falta, alguém foi cedo de mais embora, uma música tocou poucas vezes, de que o constante som de riso é mais que “riso”. É um chamado. A saudade é a prova de que não acabou, de que entre tantos entretantos ainda existe certeza que possa ser medida, cortada e guardada como uma roupa nova feita para um dia especial. Com o tempo a saudade torna-se vinho, refina-se, envelhece, ganha acordes mais ou menos dolorosos até que se restrinja a uma taça cheia até a metade e seja apenas uma foto sobre a mesa, indolor, empoeirada e esquecida. É exatamente quando se percebe que nada mais rasga o peito, que surge uma nova dor mais lancinante, a ausência da saudade, pois agora nem mesmo a saudade me une ao que um dia foi tão importante, que cada elo, cada raiva, cada mágoa e cada sorriso já não mais fazem diferença. Esse senso de liberdade machuca, e mesmo que se esteja pronto para voar de novo, as marcas das correntes não desaparecerão. Finalmente, uma dor estúpida incomoda mais que as outras todas, mais que as físicas. Essa é a dor do nada, de todos aqueles que passam por nossas vidas sem deixar uma marca, a dor do sorriso bonito no ponto de ônibus, do esbarrão acidental e bem vindo no saguão do hotel, da mão que devolve a caneta perdida. Esse sentimento vem embrulhado numa seda fina de arrependimento, e como quem perde inerte uma chance de ser feliz, vemos o sorriso passar pela janela do carro, o esbarrão se tornar motivo de raiva e a caneta voltar calma para o dono, sem sorrisos, sem palavras, sem mais nem um entretanto que exija, contundente, uma explicação.

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