domingo, 10 de abril de 2011

Gosto.

Gosto mesmo de lasanha, olhos verdes, pretensão  e frases bem costuradas. Gosto de esquentar mãos frias e de tardes amenas que avermelham o chão do quarto. Gosto de algumas taças de um vinho bem licoroso, da noite estrelada de Ayuruoca e de uma pousada esquecida pelo tempo e pelos planos da engenharia moderna. Gosto do casario barroco, das manhãs de Belo Horizonte, de querubins em poses comprometedoramente ameaçadoras e poesia de Mário Quintana. Gosto de prédios tão altos que ameaçam o céu e da velocidade dos taxis brancos. Gosto de fugir despreocupado pra qualquer praça que me abstraia e de voltar pra casa marcando passos na calçada molhada de chuva. Gosto dos meus amigos, das suas vergonhas, preguiças, dragões e tédios. Gosto de ler textos sem nexo e lutar furiosamente por compreensão. Gosto de viajar, de arrumar as malas na ida e de nem cogitar a possibilidade da volta. Gosto de relembrar o passado com saudade e gosto das formas que a fumaça das fotos queimadas desenha no ar. Gosto de tardes chuvosas quando eu estou em casa. Gosto de aprender, de me reinventar e de extrapolar as minhas próprias regras.  Gosto muito de Minas Gerais, de pão de queijo, do Mercado Central, de doce de leite e do queijo minhas da Chácara. Gosto de rebuscar manuscritos e de resfriar infernos pessoais. Gosto de me apaixonar, de dormir até mais tarde e que cedam às minhas muitas vontades. Gosto de ir ao cinema apenas pela companhia, ler pela vigésima vez o mesmo livro e rir sem causa aparente. Gosto de sorrisos, sem escolher destinatários, sem comprometer remetentes. Gosto de declarar guerras, de passar o dia ao telefone, de noitadas entre amigos e de sair com meus pais. Gosto de viajar sozinho, de firmar acordos de paz e de reencontrar gente de “há tempos”. Gosto de escrever cartas que eu nunca vou enviar, de arte, de música e de me desapaixonar. Gosto de nadar em água de cachoeira, de andar sem destino certo e de deitar na grama pra dar nome certo às nuvens muito brancas. Gosto de ser, ser integralmente, sem cortes, fissuras ou tensões. Gosto do cheiro dos livros novos e do barulho do folhear. Gosto do futuro, de abraços apertados e crises de riso. Gosto de sinceridade, da lealdade canina e de gente desajeitada. Gosto da poesia concreta e da prosa romântica. Gosto dos detalhes quase imperceptíveis, das entrelinhas e das pequenas manias. Na verdade, gosto mesmo é do gosto insensato, do acaso, do erro, da orquestra e do susto. Gosto mesmo é da vida.

Um comentário:

  1. "Gosto de sorrisos, sem escolher destinatários, sem comprometer remetentes. Gosto de declarar guerras, de passar o dia ao telefone, de noitadas entre amigos e de sair com meus pais. Gosto de viajar sozinho, de firmar acordos de paz e de reencontrar gente de “há tempos”. Gosto de escrever cartas que eu nunca vou enviar, de arte, de música e de me desapaixonar."

    Gosto de ler seus textos, de imaginar como você está, esperando que você esteja feliz. Gosto do seu abraço, daquele sorriso bonito, desses seus olhos verdes. Gosto de te ver, da sensação que o reencontro traz, de saber que tempo e distância não apagam amizade que nem essa !
    Enfim, gosto de você Dan. (saudade)

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