segunda-feira, 4 de março de 2013

Fluvial.


Antes era rio caudaloso, escondia pedras cortantes entre as espumas das águas que corriam desesperadas buscando os braços lívidos de uma foz. Entre a transparência de seus lábios, guardava segredos negros que cresciam viçosos no verde lodoso dos eufemismos. Era água intranquila, rugindo do topo das cachoeiras mais altas até morrer contra a dureza indiferente das rochas do fundo, serena, ainda que indomada. Era da cor mais turva dos rios do norte, negro e forte em seu leito desavisado e incerto. Antes era um rio caudaloso murmurando corredeiras de descontentamento, desejo e fogo... Hoje é um oceano. E em seu azul escuro eu vejo a lua. Amplo. Solene. Indestrutível. Tão calmo quanto irascível. Indiscutivelmente forte. Mas mudo.

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