O problema é que um dia chega, porque sempre chega, aquela
noite que eu sempre e tanto evito. A lembrança, vestida de taça inocente, me
caça e arranca do meio mais turvo daquele vinho vinagrado da venda da esquina.
É quando você está bêbado que as lembranças do passado e os planos natimortos
de um futuro que nem aconteceu te alcançam, e com seus rasantes tortos,
minguantes, refazem a sua noite em novas filosofias falidas e jazz infeliz. O
piano, o sax sangrando notas rascantes; eu, vinho, você. O problema é que eu
não li a mensagem que você me mandou – acho que era sua – eu perdi muitas
mensagens naquele dia. Apagando furiosamente qualquer coisa que pudesse me
convencer que o caminho ficaria mais fácil com você. E como eu me culpo por
isso... Eram conversas, parabenizações, graças aos muitos Deuses, todas
banhadas cuidadosamente com a polidez cinzenta dos amigos distantes e
conhecidos da família. Era uma mensagem, eu a vi vibrando a tela brilhante do
meu celular mas, tempo depois, desapareceu e levou consigo meu esgar de
desistência. No meu anseio por recuperá-la eu devassava meus e-mails, meus
“inboxes”, procurando por uma única prova de que você estaria retornando,
depois de toda a loucura daquele carnaval, do meu carnaval, à minha vida.
Insucesso. Quando se gosta de alguém, alguém para quem você indicou a saída, é
difícil não desejar um retorno. Não me culpe por ser desejoso, insistente,
voluntarioso. O problema é não ter a menor idéia do que estaria escrito lá, com
as suas palavras mal escolhidas... Eu não sei se eram só os parabéns secos de
alguém que se foi, se eram parabéns. Mas as palavras eram suas e, por isso, eu
nunca encontraria outras melhores.
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