Eu não sei gostar. Aliás, esse verbo me soa estranho de mais quando não se trata de família ou amigos. Isso porque pareço sempre o mesmo bem-aventurado no amor; Sempre correndo em círculos com os mesmos tipos de pessoas: As mais bonitas, as mais descoladas, as mais desejadas – nem sempre por mim -, as mais inteligentes, as mais estabanadas, as menos amadas e as mais complicadas. Toda loucura começa com um olhar, o interesse alheio e as minhas vaidade e vontade se entrelaçando no meu estômago. As mãos frias, o mistério e a voz. O riso, o encanto, o impressionar, a minha dúvida e o exibicionismo. Desenrolam-se amigos, coincidências e elogios. Elogios que eu teço com calma, atando com força as palavras para não deixar absolutamente nada dito entrelinhas, enquanto ouço declarações inteiras sussurradas – e surradas – de conivência e vassalagem. E me sinto satisfeito, me sinto completo, filho régio da criação divina. Mas com o tempo, a dança do flerte se esvai e sobram certezas, desinteressantes de mais para atraírem meu olhar. E as conversas pautadas nos fatos do dia e nas opiniões se tornam massantes: Nasce meu tédio e a pena capital é cumprida sem clemência. Mas há sim, meu leitor, dias em que eu sou minha presa: Há pessoas capazes de me prenderem com tal arte que mesmo sendo meu antônimo, me forçam um pensamento, uma lembrança, um sorriso e um frisar de lábios por pura raiva. Esses são meus dias mais obscenos: quando me apaixono. Perco a noção da dança e esqueço como se joga. Encaro a petulantemente escura tela do celular em busca de notícias e não as vejo chegar. Sinto saudades e vejo a tarde escurecer de solidão. Relembro a cada música, a cada gesto, a cada carro que passa. Encho de sorrisos as minhas ruas e repiso os caminhos que um dia me levaram a quem busco hoje. E dessa consciência vem meu senso de justiça, que não me permitiria espoliar alguém que prezo tanto. E quebro as correntes, apago telefones, esqueço bilhetes e olhares. Eu não me acho merecedor e escolho a solidão. E a distância me consola enquanto prepara meus escudos para novas guerras, novas danças, novos erros... Mea culpa, mea culpa. Me restam apenas redenções: A todos a quem elogiei com cuidado: Perdão. A todos a quem manipulei, a quem usei em nome da minha vaidade: Perdão. A todos a quem amei: Perdão. Mas dentre todos esses os que mais merecem: A todos a quem não respondi, a quem desprezei, para quem não retornei: Perdão. Talvez seja você a quem eu mais amei, talvez seja você a quem eu ainda amo.
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