segunda-feira, 6 de junho de 2011

Danilo.

Nas entrelinhas do meu nome moram palavras, saudades e erros. Moram sorrisos, dores, lágrimas, tédios e calmarias. Entremeando as letras do meu nome, sangram tempestades inteiras incansáveis e ínsones, dispersas, alimentadas, açoitadas ao sabor dos ventos que eu sopro e assisto soprarem. Lacradas sobre as minhas iniciais jazem vidas inteiras e natimortos que eu não mais suportei enterrar de novo e de novo. Jazem flores, dragões, cadeados e juras de amor feito carne ou inconsumado. Sob o ferrolho dos meus sobrenomes permanecem encarcerados segredos meus e de outros, falhas confessas, felicidades dignas de maremotos e a finesse cruel dos livros de etiqueta mais empoeirados. Sozinhos sob a íris dos meus olhos dançam ensandecidos desejos, perjúrios, desprezos e incredulidades incontestáveis que aos pares incendeiam ou congelam meus olhares tortos e sorrisos obtusos. Abaixo e profundo na minha pele borbulham agressões animalescas e correntes blindadas à boa educação e falsidade. Correm vivos pelas minhas veias medos, libido, guilhotinas, coragem e histórias inacabadas que o meu coração reanima a cada contração. Viajam na velocidade da luz impulsos e frases cortantes, que a minha língua afiada por vezes dispara sem obter igual lâmina ardente, doce ou úmida que lhe cale. Nos músculos das minhas pernas comanda insólita a busca eterna. Pelo meu corpo avançam lentas calma e resignação enquanto revolta e soberba lideram revoluções do alto de seus cavalos negros. O meu nome é muito e tão pouco que cabe em seis letras enfileiradas ao capricho do destino, determinadas pela morfologia estática das palavras. Meu nome é santo e devasso escondido sob vestes históricas de significação, astrologia e lembranças de família. É pequeno estigma que sangro a cada assinatura, que condena e salva, encarecidamente, cruelmente, tolamente. Por tudo e portanto, chame-me apenas por Danilo, toda dor, todo gozo, toda vida e toda morte estarão implícitas.

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