Meu doce, perfeito, maior e eterno amor, avise-me quando morrer, pois quero eu mesmo postar no jornal mais renomado a tua nota de falecimento. Deus me livre dos amores ternos, dos amores trôpegos. Pois deles é o reino do céus. Na terra se vivem amores loucos, amores bêbados, que do transe de uma noite nascem e renascem de cinzas ou chamas, cada dia mais fortes, cada dia mais loucos. Deus me livre dos amores estáticos, dos amores constantes, que dormem a sono solto sobre a grama muito verde, pois essas estátuas nada podem gerar. Deus me livre dos amores certos, cortados ao gosto das boas famílias, pois seus frutos serão tão monótonos quanto quem os criou. Deus me livre do amor fácil, perdido no chão dos salões, a vida lhes reservou o chão por um bom motivo. Deus me livre dos amores esguios e fugidios do andar pelas ruas, pois no frio das ruas começam e na pressa das ruas terminarão. Deus me livre dos amores calmos, pois de todas as piores lutas, a mais cruel é travada em silêncio. Deus me livre do amor infantil, que não sabe sofrer. Deus me livre do amor servil que, distante, escreve declarações a sangue. Deus me livre do amor cego, que não percebe distâncias impostas, sorrisos forçados. Deus me livre do amor eterno, que de todos os piores defeitos possui a jóia mais perversa: o que é eterno, o que é perfeito, jamais se renovará. Deus me livre desses amores, pois deles é o favor dos anjos. Aqui onde vivo, onde não chega a voz das deusas, se vivem amores que choram, que ardem, que correm, que minguam de tanto desejo, que se desvanecem, que beijam, que queimam , que sofrem, que fingem e que odeiam. Livra-me Deus, desses amores divinos que sob nada se pervertem, pois são tão divinos, que não são humanos e não habitam entre os homens. Livra-me Deus, pois sou ciente que, talvez, dos teus melhores presentes o mais doce seja a fraqueza da carne, que me faz humano, que me faz errante, que me faz incorrigivelmente e inevitavelmente, amante.
Destilo aqui a dor, o delírio, a desventura e a delícia dos meus dias em palavras. Destile, você, essas palavras em algo que te compraza.
terça-feira, 24 de maio de 2011
domingo, 22 de maio de 2011
domingo, 1 de maio de 2011
Gentileza do Destino
E os olhares se cruzaram, perfumados com a insensatez dos corredores escuros das boates. Sabia-se que se encontrariam. Amigos em comum, gostos geminados e assuntos parecidos e bem cortados, a mesma petulância nas palavras, nas bebidas e nos olhares. Como dois e dois são quatro, deveriam se encontrar, perderem-se em olhares e terminarem deixando, abraçados, o salão e o campo de visão dos muitos e satisfeitos amigos. E assim, como reza cada escritura sagrada, uniram-se, pois Alguém o designou certo, bom. O tempo passou, e a valsa dobrou-se à dança dos erros. Mas eram felizes, diziam os fartos amigos e as famílias, que orgulhosas, reclamavam para si a autoria de tamanho acerto. Viajavam juntos, buscando nas ruínas de antigos impérios a grandeza que seus corações não conheciam, refletindo nos sorrisos amarelos a insatisfação domada. Já longe, ouviam os mesmos acordes, mas já não os ouviam juntos. Queriam ser livres como um dia foram e a companhia lentamente turvou-se em corrente, em amarra. Gentileza do destino: Morreram separados depois de anos de companhia vã. Morreram separados por um oceano e alguns abismos abertos ao prazer do descaso. Morreram felizes, morreram amando. Cientes de que nem sempre amigos realmente sabem que caminho é melhor, cientes de que famílias nem sempre podem ser ouvidas, cientes de que quando se trata de amor, o próprio Deus sorri satisfeito e diz: Entendam-se, vocês que, por serem tão imperfeitos, são capazes de amar.
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