domingo, 1 de maio de 2011

Gentileza do Destino

E os olhares se cruzaram, perfumados com a insensatez dos corredores escuros das boates. Sabia-se que se encontrariam. Amigos em comum, gostos geminados e assuntos parecidos e bem cortados, a mesma petulância nas palavras, nas bebidas e nos olhares. Como dois e dois são quatro, deveriam se encontrar, perderem-se em olhares e terminarem deixando, abraçados, o salão e o campo de visão dos muitos e satisfeitos amigos. E assim, como reza cada escritura sagrada, uniram-se, pois Alguém o designou certo, bom. O tempo passou, e a valsa dobrou-se à dança dos erros. Mas eram felizes, diziam os fartos amigos e as famílias, que orgulhosas, reclamavam para si a autoria de tamanho acerto. Viajavam juntos, buscando nas ruínas de antigos impérios a grandeza que seus corações não conheciam, refletindo nos sorrisos amarelos a insatisfação domada. Já longe, ouviam os mesmos acordes, mas já não os ouviam juntos. Queriam ser livres como um dia foram e a companhia lentamente turvou-se em corrente, em amarra. Gentileza do destino: Morreram separados depois de anos de companhia vã. Morreram separados por um oceano e alguns abismos abertos ao prazer do descaso. Morreram felizes, morreram amando. Cientes de que nem sempre amigos realmente sabem que caminho é melhor, cientes de que famílias nem sempre podem ser ouvidas, cientes de que quando se trata de amor, o próprio Deus sorri satisfeito e diz: Entendam-se, vocês que, por serem tão imperfeitos, são capazes de amar.

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