sábado, 23 de abril de 2011

Maioridade.

Caríssimos, A MAIORIDADE NÃO DÓI. Essa é minha conclusão. E esse foi meu ano mais conturbado, mesmo considerando os tombos feios e o cachorro morto nos anos anteriores. Bem, não só o mais conturbado, mas o mais surpreendente, excitante e por que não, feliz?! Em 365 dias eu pude perceber que em um pequeno espaço de tempo tudo pode mudar: O garoto arrogante da cidade pequena pode se libertar das correntes e tomar um porre no baile de formatura. Ele pode não passar no vestibular e perceber quanta tolice reside em achar que se sabe mais que um ácaro... Eu pude ver que a cidade grande é muito mais cinza que o sonho azul das férias e que a saudade descolore pouco a pouco esse sonho. Percebe-se que às vezes o céu ganha cor quando se faz novos amigos e perde-se a aula de matemática pra rir de bobeira. Vi que boates obtusas podem trazer presentes muito maiores que beijos roubados. Presentes de cidades estranhas, tipo São Gotardo, pares de olhos azuis que mais parecem piscinas e meninas da cidade que dançam forró como se fossem criadas em Ayuruoca. Ah, percebi que belo-horizontinos nunca falam Ayuruoca sem soletrar! Vi que eu poderia me apaixonar por pessoas a quem eu havia expulsado da minha vida, e que às vezes se pode vencer os abismos. Aprendi que mais importante que despejar as mágoas em cima dos amigos é ter sempre um belo sorriso e uma barra de Laka em mãos pra ajudar quando necessário. Percebi que saudade dói fisicamente e quanta saudade eu sinto desse povo do Santo Inácio,de Ayuruoca e da minha família,que eu amo tanto. Percebi que é mais fácil ir à academia se você tem companhia e baladas não tem a menor graça sem alguém que não beba. Aprendi que dormir sem conversar até a uma da manhã é desperdício de tempo e que – graças a Deus – irmãos nunca mudam.
Aos tantos que participaram desse ano, desde os primos, familiares, irmão e amigos de infância aos melhores amigos que eu fiz aos 45 do segundo tempo, OBRIGADO! O melhor presente foi ter passado esse ano com vocês!
Mas enfim, nesse meu novo ano que começa, prometo amadurecer pouco a pouco pra não chegar ao estado de Little Nietzsche e encher o saco de todo mundo. Prometo me superar a cada dia e arrastar meus amigos para festas estranhas. Prometo carregar um sorriso na cara e um calibre 38 na mochila – em casos extremos... nunca se sabe –. Prometo não ter medo de caminhos difíceis nem de montanhas. Prometo. Mas mais importante que tudo, eu prometo ser o mesmo Danilo de sempre: Chato, exagerado, metido, estranho, distraído e bobo, sempre bobo... E é isso, os dezoito são apenas os dezessete com mais balada, mais bebida e mais livros... E a maioridade nunca doeu mais que um dente de leite caído sobre a mesa, puro fingimento...

domingo, 17 de abril de 2011

Conselho.

O segredo é crueldade e desprezo bem medidos. Sempre foi. A beleza que reside no desprezo, no desinteresse, é desejável na mesma medida em que machuca. Nada incomoda mais que um olhar intenso que não foi meu, seguido de um sorriso asfixiado no canto dos lábios. Aquilo que te incomoda é exatamente o dono da sua atenção e, portanto, merecedor do seu pensamento. O desprezo assassina como um fetiche, cria um laço estranho, entorta a intenção até que ela se dobre em desejo. Veja bem, eu nunca quis intensamente aqueles que me fizeram centro das atenções. O que eu demorei a entender é que o que me atrai é a disputa eterna pelo holofote, a espera que só ganha medida numa garrafa de vinho e na embriaguez. Que a confiança existe, mas nunca tão forte que pudesse aplacar meu ciúme. Insegurança não é coisa de gente tola, é coisa de gente. Monges budistas, árvores com mais de dez metros de diâmetro e guaxinins podem viver sem insegurança. Saiba que não vale a pena olhar de novo pra pessoas pra quem você não olharia uma terceira vez, assim como não vale a pena revirar o passado, a não ser que o passado tenha voltado muito diferente.  Acredite: o passado sempre volta, ele nunca se reconhece passado. Cada pessoa com quem você já trocou mais que um beijo sempre se sentirá um pouco sua dona e, portanto, senhora do direito de avaliar as suas atitudes com perícia de conhecedor, mesmo que não o seja. Fuja desesperadamente de gente tediosa, de gente que não consegue manter o fluxo da conversa e daqueles que não sonham sonhos do tamanho dos seus. Inteligência fascina e é muito mais interessante assumir que não se sabe sobre algo que tentar conversar sobre tal assunto. Ser discreto é extremamente interessante, ao mesmo passo que declarações públicas de amor são dispensáveis. Sutileza é uma arte de poucos e é irmã mais velha da ironia. Mistério é muito diferente de segredo e se você não sabe o que é, comece a pesquisar. Não importa, no fim das contas, quantos carros você tem, mas tão somente aquele que tem uma história interessante. Alianças atraem olhares e desejos. Resista bravamente, ou aproveite ao máximo. Saiba ignorar. Olhares, sorrisos, palavras, tudo pode ser sumariamente ignorado. Saiba ser livre. Entenda que aqueles que sabem que o cão está bem preso, jamais se preocupam com ele, enquanto os que não têm correntes, o prendem com um abraço. Gente que não vale a pena, não vale a pena. Não tente. Finalmente, saiba ser cruel, nem todos merecem um sorriso, nem todos merecem uma segunda chance, todo barco que já naufragou uma vez não poderá navegar de novo, gente subserviente quer algo em troca, e tem gente que merece um bom pisão, sem desculpas.

domingo, 10 de abril de 2011

Gosto.

Gosto mesmo de lasanha, olhos verdes, pretensão  e frases bem costuradas. Gosto de esquentar mãos frias e de tardes amenas que avermelham o chão do quarto. Gosto de algumas taças de um vinho bem licoroso, da noite estrelada de Ayuruoca e de uma pousada esquecida pelo tempo e pelos planos da engenharia moderna. Gosto do casario barroco, das manhãs de Belo Horizonte, de querubins em poses comprometedoramente ameaçadoras e poesia de Mário Quintana. Gosto de prédios tão altos que ameaçam o céu e da velocidade dos taxis brancos. Gosto de fugir despreocupado pra qualquer praça que me abstraia e de voltar pra casa marcando passos na calçada molhada de chuva. Gosto dos meus amigos, das suas vergonhas, preguiças, dragões e tédios. Gosto de ler textos sem nexo e lutar furiosamente por compreensão. Gosto de viajar, de arrumar as malas na ida e de nem cogitar a possibilidade da volta. Gosto de relembrar o passado com saudade e gosto das formas que a fumaça das fotos queimadas desenha no ar. Gosto de tardes chuvosas quando eu estou em casa. Gosto de aprender, de me reinventar e de extrapolar as minhas próprias regras.  Gosto muito de Minas Gerais, de pão de queijo, do Mercado Central, de doce de leite e do queijo minhas da Chácara. Gosto de rebuscar manuscritos e de resfriar infernos pessoais. Gosto de me apaixonar, de dormir até mais tarde e que cedam às minhas muitas vontades. Gosto de ir ao cinema apenas pela companhia, ler pela vigésima vez o mesmo livro e rir sem causa aparente. Gosto de sorrisos, sem escolher destinatários, sem comprometer remetentes. Gosto de declarar guerras, de passar o dia ao telefone, de noitadas entre amigos e de sair com meus pais. Gosto de viajar sozinho, de firmar acordos de paz e de reencontrar gente de “há tempos”. Gosto de escrever cartas que eu nunca vou enviar, de arte, de música e de me desapaixonar. Gosto de nadar em água de cachoeira, de andar sem destino certo e de deitar na grama pra dar nome certo às nuvens muito brancas. Gosto de ser, ser integralmente, sem cortes, fissuras ou tensões. Gosto do cheiro dos livros novos e do barulho do folhear. Gosto do futuro, de abraços apertados e crises de riso. Gosto de sinceridade, da lealdade canina e de gente desajeitada. Gosto da poesia concreta e da prosa romântica. Gosto dos detalhes quase imperceptíveis, das entrelinhas e das pequenas manias. Na verdade, gosto mesmo é do gosto insensato, do acaso, do erro, da orquestra e do susto. Gosto mesmo é da vida.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Entretanto.

Saudade. Eu detesto, odeio com cada fibra do meu corpo, porque mais que o ritmo do meu coração ela é constante em meu caminho. Nada pode me matar mais dolorosamente e mais lentamente que a saudade, do toque, da voz, do sorriso, do perfume ou do jeito de olhar. Entretanto eu regozijo a saudade, pois ela prova, a mim que me acho tão frio às vezes, que de fato algo me falta, alguém foi cedo de mais embora, uma música tocou poucas vezes, de que o constante som de riso é mais que “riso”. É um chamado. A saudade é a prova de que não acabou, de que entre tantos entretantos ainda existe certeza que possa ser medida, cortada e guardada como uma roupa nova feita para um dia especial. Com o tempo a saudade torna-se vinho, refina-se, envelhece, ganha acordes mais ou menos dolorosos até que se restrinja a uma taça cheia até a metade e seja apenas uma foto sobre a mesa, indolor, empoeirada e esquecida. É exatamente quando se percebe que nada mais rasga o peito, que surge uma nova dor mais lancinante, a ausência da saudade, pois agora nem mesmo a saudade me une ao que um dia foi tão importante, que cada elo, cada raiva, cada mágoa e cada sorriso já não mais fazem diferença. Esse senso de liberdade machuca, e mesmo que se esteja pronto para voar de novo, as marcas das correntes não desaparecerão. Finalmente, uma dor estúpida incomoda mais que as outras todas, mais que as físicas. Essa é a dor do nada, de todos aqueles que passam por nossas vidas sem deixar uma marca, a dor do sorriso bonito no ponto de ônibus, do esbarrão acidental e bem vindo no saguão do hotel, da mão que devolve a caneta perdida. Esse sentimento vem embrulhado numa seda fina de arrependimento, e como quem perde inerte uma chance de ser feliz, vemos o sorriso passar pela janela do carro, o esbarrão se tornar motivo de raiva e a caneta voltar calma para o dono, sem sorrisos, sem palavras, sem mais nem um entretanto que exija, contundente, uma explicação.