As plataformas de desembarque estavam vazias, como a minha cabeça, como o meu coração. Uma mulher andava rápido de um lado a outro enquanto meus olhos lambiam seus passos nervosos na ardósia fria. E nessas horas de descuido pleno, sem freios, o pensamento voa. Cada novo desembarque trazia na hora marcada, reencontros e saudades se dissipando no ar. Saudade, como medir a saudade? Eu me perguntava... Quem sabe seriam as lágrimas que cada um derrama e que chegam, de longe, no vento pra que uma mão distante as seque? O número de tardes perdidas nas lembranças? O número de noites em claro? E eu continuava a encarar o relógio preguiçoso da espera enquanto indulgente, eu ouvia meu coração disparar dentro do casaco pesado a cada anúncio de chegada. Era saudade, pura e simples. Sentimento estranho e sem tradução é a saudade. Mais que querer reviver momentos passados, vinhos provados e risos fundidos no calor dos olhares dispensados, saudade é vontade de viver novamente quem se espera. E com todos os espinhos de praxe, a saudade saltava aos olhos, fria como o vento desses dias que me lembravam tanto as minhas montanhas. Ventava, mas meus olhos abertos resistiam petulantes, como eu resistia ao impulso de correr a distância que nos separava. Eu destilava a espera com calma, enquanto observava as mães abraçarem os filhos entre lágrimas e sorrisos. Eu mesmo sorria, esperando que meu reencontro fosse tão épico quanto aqueles. Mas não era só um sorriso, era a assinatura da minha vontade. Era a marca da minha espera, da minha esperança. Finalmente um novo ônibus paralisou meu olhar e meu pensamento. Os pés que eu esperava tocaram o chão e os olhos donos daquele olhar molhado rabiscaram o ar até os meus. Era saudade, pura e simples. Eu me levantei e desobedientes, minhas pernas não se moveram. No andar ritmado daqueles passos que se aproximavam de mim eu disparava compreensões no ar úmido. Saudade se mede no reencontro. A medida da saudade é o tamanho do abismo no estômago, as mãos trêmulas e frias, o corpo que não consegue se mexer, o sorriso que rasga a força os lábios, o olhar focado, é a força do abraço, a entrega, a queda de todos os muros, de todas as armas, a desimportância do tempo. A verdadeira medida da saudade cabe, única e justamente no átimo de um olhar, na eternidade que só um abraço pode encerrar.
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