Sorrir como nunca sorri antes. Essa é minha nova tarefa. Porque nem sempre a vida nos dá a carta que faltava pra fechar o Full House e não é por causa de uma carta que eu vou queimar todas as minhas pontes. Eu cansei de passar a limpo os cadernos de rascunho antes de descartá-los ao lixo, afinal, cadernos de rascunho nasceram para o rascunho, nunca chegarão a Best Sellers. Aprendi que revisar matérias e fotos às quais eu já decorei não me faz saber mais, não traz ninguém de volta à cidade, não esclarece as dúvidas que carrego nem me leva de volta pra casa. Saiba caro leitor, que escrever a lápis é muito mais gentil com a história que se escreve que a sobriedade pretensiosa das canetas Pilot, que não há vergonha em se usar borracha até porque certos capítulos merecem ser decapitados. Saiba que o medo protege e cega, bem como a certeza. Nem sempre voar é mais divertido que tomar um ônibus, porque voar é um solo, e a graça do ônibus mora no inesperado, na intenção dissolvida nos olhos de outro alguém. E eu quero me perder porque a busca não me satisfez, porque as fórmulas todas predeterminadas dos lugares certos não me trouxeram nada que dure mais que um sorriso, porque os meus melhores dias nasceram de um pisão no pé em pleno cinema, do comentário sobre uma camiseta espirituosa ou de um céu nublado no primeiro dia de aula em Aiuruoca. E ontem perguntaram-me como me defino. Um dia me chamaram voluntarioso, pretensioso. Hoje eu posso me ver nesses quadros. Eu sou, sim, caprichoso típico, cheio de vontades e tantas vezes inconseqüente que já me cansei de perder o controle. Eu sou pretensioso, porque anseio um sorriso que nunca foi dado a ninguém, porque tenho a petulância de sempre querer mais do que se mostra disponível. Mas acima de tudo isso, sou voluntarioso e pretensioso porque ouso desejar, porque ouso sorrir, porque ouso a cada dia, desafiar o futuro a me mostrar algo que eu ainda não tenha visto.
Procure, meu leitor, pois numa dessas entrelinhas cabe ajustadamente o seu nome.
Com um sorriso,
O autor.
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