Antes era rio caudaloso, escondia pedras cortantes entre
as espumas das águas que corriam desesperadas buscando os braços lívidos de uma
foz. Entre a transparência de seus lábios, guardava segredos negros que cresciam viçosos no verde lodoso dos eufemismos. Era água intranquila, rugindo do topo das cachoeiras mais altas até morrer contra a dureza indiferente das rochas do fundo, serena, ainda que indomada. Era da cor mais
turva dos rios do norte, negro e forte
em seu leito desavisado e incerto. Antes era um rio caudaloso murmurando corredeiras de descontentamento,
desejo e fogo... Hoje é um oceano. E em seu azul escuro eu vejo a lua. Amplo. Solene. Indestrutível. Tão calmo quanto irascível. Indiscutivelmente forte. Mas mudo.