Verdade é
que você sofre, anda, trabalha, ri, corre, se distrai, até que numa noite
chuvosa de sexta, você vai perceber que algo mudou e ficou uma vontade de ir ao
cinema sozinho, leve e dono de si, sem penalidades ou guerrilhas internas. Sala
de projeção escolhida com cuidado, vazia e silenciosa, o filme transcorre sem nenhum
susto ou tiroteio de faroeste. Nem sempre solidão é assim tão desesperadora,
ruim, como dizem os românticos. A solidão pode ser uma boa companheira, se você
não a desprezar. Trate-a com carinho, respeito e dedique a ela uns minutinhos
diariamente. Se no meio do dia ela tomar de assalto a sua caminhada, sorria
sinceramente, ponha uns fones de ouvido e valse com ela até o portão do seu
prédio. Abrigue-se alguns momentos sob a solidão de um taxi e depois deixe-a
voltar sozinha enquanto você festeja numa boate qualquer, mesmo sentimental,
ela compreenderá. Saiba que a solidão é boa amiga, mas péssima esposa,
portanto, tenha o cuidado de não levá-la para a cama todos os dias. Não se esqueça,
trate bem a solidão e aceite de bom grado a sua companhia. Se você se acostumar
a ela e souber que nem sempre ela estará com você, perceberá que, de fato, ela frequentemente
se ausenta e alguém aparece pra bater papo. A solidão pode ser o que você
quiser, se você souber dizer a ela o que quer, pode ser retiro espiritual,
dança na chuva, choro no canto, riso estridente, pode ser até melancolia ou
felicidade particular. Eu aprendi a respeitar a solidão porque tanto quanto
meus amigos, a solidão me faz companhia quando todo mundo foi embora e o
apartamento está vazio de vozes e luzes. Escuro e silencioso como aquela sala
de cinema. E se alguém perguntar, a solidão é minha, eu levo pra onde quiser.
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