quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Solidão.

E talvez tenha me acostumado à solidão. Não essa solidão insatisfeita dos conventos, mas uma solidão insolente que olha o amor de frente com um sorriso petulante retesando o canto dos lábios. Uma solidão que chora sozinha no canto da sala é deprimente. A solidão altiva das peças únicas é elegante, não existe por rejeição, mas por disparidade. A sedução mística dos objetos ímpares é muito mais doce, desejada. Cobiça que cresce aquecida pelo fetiche do mistério, esgueirando-se pelos muros blindados da razão até chegar ao interesse mais torpe e apaixonante de um coração ansioso. A verdade é que há muito não me fazem estremecer como eu costumava... Os esforços e sorrisos alheios são mais um desfile de tentativas frustradas e quando um atrevimento rasga a seda da distância educada, resta a nudez fria de um não. Às vezes, eu assumo, um amor é preciso, para ocupar a casa, fazer trocar os porta-retratos, para banhar músicas com lembrança e espalhar a poeira fina da nostalgia sobre as ruas. Mas finda essa utilidade mórbida, traça-se a linha dos erros, a valsa estranha dos desapaixonantes e, regado a vinho e falsa comoção, cresce o anseio de liberdade e “os velhos tempos” são cada dia mais bonitos. Sentenças dadas, não há julgamento que perdure a contragosto dos fatos: as rédeas são gentilmente cedidas à sabatina das horas e as perguntas se encarregam, doces, do fim. E a solidão reassume com graça o seu posto. Talvez eu tenha me contido por conforto, por preguiça, por medo. Talvez eu tenha me acostumado a ser só, mas, definitivamente, não desacompanhado.

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