Celebrar a vida e prantear a morte: Numa semana, essa
semana, eu recebi os parabéns pelo meu aniversário e as condolências pela morte
de alguém muito importante. Ela foi a pessoa que me deu meu primeiro banho quando
eu saí do hospital de São Lourenço. Ela foi a tia muito querida que me buscava
em Aiuruoca e me levava pra São Lourenço
porque eram férias e eu não podia viajar sozinho. Ela foi a pessoa que sentava
a uma mesa qualquer pra me contar histórias de um tempo antigo e ria comigo, me
ouvia quieta, com o olhar doce. Ela foi a pessoa paciente que tentava me
ensinar a jogar truco, apesar do meu evidente descaso com as cartas. Ela foi a
mulher que a despeito de quaisquer problemas, se punha a fazer a bala de coco que
eu amava e amo só pra me agradar... E d’ela, ficam as lembranças, eu sei, mas dói que
sejam só lembranças, mesmo as mais doces. Me dói
o frio, a desesperança, o vazio, a incerteza e a constante certeza de ter somente as
fotos. Me doem as muitas lágrimas e o gosto amargo delas, que ainda me turva o
paladar. Me dói a fugacidade da vida, me doem as horas ociosas que eu não
passei perto d'ela, me dói o medo de que aconteça de novo. E eu bem sei que daqui
a alguns dias eu vou sorrir e saber que foi tudo pela vontade divina ou chame
você do que quiser. Mas por hoje eu vou me reservar ao pranto, e cada lágrima
não vai ser saudade, vai ser a convicção de um sentimento que nasceu lá no
Danilo que ganhou o primeiro banho, que está presente no Danilo que ainda não
sabe jogar truco e que vai morrer com o Danilo que nunca mais vai encontrar aquelas balas de coco. Tia Dalva, obrigado por me fazer feliz. Esteja bem. Eu
te amo.