quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Dos Paradoxos.


Celebrar a vida e prantear a morte: Numa semana, essa semana, eu recebi os parabéns pelo meu aniversário e as condolências pela morte de alguém muito importante. Ela foi a pessoa que me deu meu primeiro banho quando eu saí do hospital de São Lourenço. Ela foi a tia muito querida que me buscava em Aiuruoca  e me levava pra São Lourenço porque eram férias e eu não podia viajar sozinho. Ela foi a pessoa que sentava a uma mesa qualquer pra me contar histórias de um tempo antigo e ria comigo, me ouvia quieta, com o olhar doce. Ela foi a pessoa paciente que tentava me ensinar a jogar truco, apesar do meu evidente descaso com as cartas. Ela foi a mulher que a despeito de quaisquer problemas, se punha a fazer a bala de coco que eu amava e amo só pra me agradar... E d’ela, ficam as lembranças, eu sei, mas dói que sejam só lembranças, mesmo as mais doces. Me dói o frio, a desesperança, o vazio, a incerteza e a constante certeza de ter somente as fotos. Me doem as muitas lágrimas e o gosto amargo delas, que ainda me turva o paladar. Me dói a fugacidade da vida, me doem as horas ociosas que eu não passei perto d'ela, me dói o medo de que aconteça de novo. E eu bem sei que daqui a alguns dias eu vou sorrir e saber que foi tudo pela vontade divina ou chame você do que quiser. Mas por hoje eu vou me reservar ao pranto, e cada lágrima não vai ser saudade, vai ser a convicção de um sentimento que nasceu lá no Danilo que ganhou o primeiro banho, que está presente no Danilo que ainda não sabe jogar truco e que vai morrer com o Danilo que nunca mais vai encontrar aquelas balas de coco. Tia Dalva, obrigado por me fazer feliz. Esteja bem. Eu te amo.