Eu sempre procurava um motivo pra pensar. O vazio que eu sentia de vez em quando, os ônibus com destino invejável, as árvores da praça, a garrafa vazia de vinho. Tudo lembrava você, enquanto minha sobriedade infeliz aquietava à golpes de tenaz em brasa a minha vontade. Não passou tanto tempo, nem eu mudei radicalmente. É que... Sabe quando você respira aliviado no meio da madrugada, acordando com medo de um sonho bom? Você queria aquilo com tanta intensidade que não saberia como agir se fosse real. Foi assim comigo. Essa tarde eu me assustei com o vazio no meu peito, nas minhas palavras, me assustei com a sua falta que eu não mais sentia. Me vi só de novo, com o sarcasmo meu amigo de humor negro e a coragem fula da vida que eu sempre quis ter. Coragem de correr pra longe de você e esquecer onde ficava o último porto, de beber de outros sorrisos e descobrir algo que me faça te esquecer. Coragem pra pisar as nossas ruas cobertas de lembrança fina sem remorso ou nostalgia que me façam parar. Ah, eu sorri. Sorri aberto, desprotegido, descomplicado, com uma certeza bem pequena, bem estranha de que eu passei por você. Não que eu não queira voltar, não que eu não tenha que lutar contra uma ou outra vontade quando eu te vir de novo. Eu só estou indo comprar uns cigarros, deixo as chaves. Tranque as portas. Se eu quiser voltar, quero que você tenha o direito de não abrir.